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registro: 28/04/2010
Todo mundo é culpado pelas bondades que não pratica.
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Último jogo

O relato de um cidadão brasileiro

Nos descaminhos de asfalto que palmilha, Hustene empreendeu uma viagem de descoberta

do país. Diante de cada porta fechada, percebeu que o Brasil havia desistido dele e de sua 

família e haviam esquecido de avisá-lo. Não é uma vaga de emprego que lhe negam, é um

lugar no projeto da nação. "O que mais me dói é que não consigo emprego por exigência de estudo.

Aí não vou poder continuar dando estudo para os filhos. Vão ficar pai, filhos e netos trabalhando sem 

educação, no serviço que aparecer. Ficaremos todos sem escolha", desespera-se. "Eu trabalhava em

escritório, tinha datilografia e escrituração fiscal. Meus filhos iam comigo trabalhar e ficavam orgulhosos.

Agora me tornei um analfabeto, fiquei fora da informática.(...) Vou começar do zero e não estou no zero.

Não sou contra a tecnologia, mas é uma concorrência desleal. E meus filhos não têm computador. E eu

não terei o dinheiro para mandá-los para faculdade.

 

                                    Eliane Brum. O homem-estatística. Época.Globo, n° 197, 25 de fevereiro de 2002, p.91