“Um carta para quem precisa demais desabafar:
“Estar triste não é imoral.”
Estou triste. Eu às vezes sinto como se ninguém estivesse se importando comigo.
E como se eu fosse alguém que despertasse incômodos. Talvez eu seja. Talvez seja tudo coisa da minha imaginação.
Tenho medo de me expressar. Quando me expresso eu me julgo.
Digo para mim “Não diga isso.” Eu tenho medo do erro, ter medo do erro é sentir uma insegurança enraizada.
Já pensei em morrer hoje.
Mas não morri, estou vivo.
É um dia difícil como outros dias foram difíceis. Me sinto profundamente sozinho e incapaz de sair de mim. Parece que falo outro idioma. A minha língua me sufoca. Eu inspiro e respiro.
Não passa tão rápido quanto eu gostaria. Tenho dificuldade de confiar respostas a alguém e de me abrir.
É difícil, porque eu acho que do outro lado há um juiz implacável.
Talvez eu esteja me vendo no espelho. Eu sou meu juiz implacável.
Mas a voz de outros também são. Não estou com raiva de ninguém, nem revoltado, estou triste.
Uma tristeza conformada. E escrevo pra alguém. Se você for esse alguém, por favor, aqui estou eu. Também estou triste. E me sentindo sozinho. Posso acompanhar a sua solidão?
É um dia difícil, como outros dias são difíceis. Não é o primeiro, nem será o último. Não vai dar tudo certo, entenda.
Mas vai dar tudo. Tudo é muita coisa. Tudo é muito mais que certo. É melhor dar tudo do que certo. Porque dentro de tudo há milhares de coisas melhores e mais úteis do que o “certo”.
Se você é alguém que ao ler essas palavras sente pena, essas palavras não são para você.
Piedade a gente tem de quem peca. Sofrer não é pecado. Estar triste não é imoral.
Ninguém precisa sorrir e abraçar o mundo inteiro forçado. É violento exigir alegria. Faz parte o dia ruim, a gente não quer fugir do dia ruim, nem disfarçá-lo.
A gente é feito de carne, osso e memórias.
Meu peito, meus braços, minhas pernas, tudo é água e saudade. Você sente saudades de você mesmo? De outra pessoa que você foi dentro da pessoa que você é? Não tem volta não. Já somos outros e seremos pessoas inéditas daqui pra frente.
Eu estava triste e desabafei. Não sou mais o mesmo. Nem você é.
A gente é feito de carne, osso e memórias. E quando a carne, o osso e as memórias ficam tristes é um dia difícil, difícil, difícil.
Mas é um dia ainda. É um tempo ainda. E o tempo passa.
Minha tristeza deseja fortemente que a sua tristeza seja forte e consiga descobrir essa piegas, profundamente brega, verdade: Viver é aceitar a morte de uma esperança,
dar lugar ao nascimento de outras esperanças.
Eu estava triste e escrevi esta carta cafona. Mas sinceramente, quem não se permite cafonices ou é feito de pedra ou é feito de besta.”